Madeborg

Madeborg, há 95 anos testemunha a história de Anta Gorda

Construída em 1928 sobre um arroio, a Madeireira Borghetto Ltda. é testemunha viva da formação de Anta Gorda e agora, também, um bem de valor histórico a ser imediatamente preservado. 

Situada no trevo de entrada da Comunidade Borghetto e construída em 1928 sobre um arroio, a Madeireira Madeborg há 95 anos é testemunha da formação e desenvolvimento do Município de Anta Gorda. 

Antes denominada Carpintaria Progresso, em 1948 foi adquirida pelos irmãos Clorindo e Ereny Baldo, colaboradores da empresa, e registrada como Industrial Madeireira Borghetto Ltda e nome fantasia de Madeborg, em 1951. Tinham como lema: trabalho, honestidade e compromisso.

De lá para cá muitas histórias de crescimento e esperança passaram por ali. Entradas e saídas de familiares da sociedade, ampliações das instalações com serraria, oficina e novos maquinários, abertura de loja de materiais de construção e um malogrado incêndio, até que a empresa fosse transferida em 2007 para a rua Júlio de Castilhos, já sob o comando dos irmãos Nereu e Rutinei, filhos de Ereny Baldo.

Também merecem registro, as inúmeras iniciativas da família Baldo, dos poderes públicos de Anta Gorda e da AAMoinhos para que a Madeireira Borghetto viesse a ser preservada: levantamentos, anteprojetos, isolamento da área, cobertura e estabilização do prédio – que do efetivo tombamento, em novembro de 2020, até a doação do bem à AAMoinhos, realizada em 22 de fevereiro de 2023 – assegurassem a sua recuperação.

Coincidentemente, doada no mesmo dia do aniversário de 15 Anos do Museu do Pão, primeiro patrimônio tombado e preservado na região do Alto Taquari. Um presente.

Desempenhando um trabalho voluntário e fundamental para o desenvolvimento das comunidades do interior e a manutenção de sua cultura singular, os Amigos dos Moinhos, sejam eles associados ou simplesmente àqueles que vibram com o incansável trabalho de preservação da memória, tem agora, na entidade, o comprometimento formal e responsabilidade pela salvaguarda, manutenção e projeto de recuperação e novos usos da madeireira Borghetto-Madeborg e futuro Memorial da Madeira.

Que o trabalho coletivo siga preservando a memória da Comunidade Borghetto e do município de Anta Gorda.

Histórico

A Industrial Madeireira Borghetto Ltda possui quase um século de história. Antes denominada Carpintaria Progresso e de propriedade de Alfredo Burtet, a empresa, conforme relato de cidadãos da época, foi fundada em 1928. Inicialmente fabricava carroças e arados agrícolas.

Primeiro empregado da Progresso foi Clorindo Baldo, que mais tarde casou-se com a filha de Alfredo, Deomira Burtet.

O tempo foi passando e o trabalho aumentando, tanto que surgiu a necessidade de mais mão de obra. Sendo assim, Ereny Baldo (in memoriam), irmão de Clorindo, foi contratado para auxiliar nos serviços.

Na época, o trabalho era totalmente manual. Haviam poucos recursos, mas a força de vontade e o dinamismo superavam as dificuldades. Com o passar dos anos, a empresa foi prosperando, sempre tendo como carro chefe o trabalho com a madeira. Terras foram adquiridas e reflorestadas para que os trabalhos pudessem ser efetuados com matéria-prima própria.

Foi em 1948 que os irmãos Clorindo e Ereny compraram a Carpintaria Progresso, mas só em 2 de julho de 1951, fundaram e registraram a Industrial Madeireira Borghetto Ltda., com o nome fantasia de Madeborg.

Em 1964 ingressou na sociedade seu Orgenio Dalmoro. De acordo com os documentos que ainda se encontram preservados an empresa, no dia 21 de outubro de 1969, orgenio afastou-se da sociedade e seu lugar foi ocupado por Unírio Bortolo Baldo, irmão de Clorindo e Ereny. Ele conta que trabalhavam do amanhecer ao anoitecer, sem preocupar-se com o horário. Tinham como lema: trabalho, honestidade e compromisso. 

Em algum momento os três chegaram a trabalhar também com gado e frangos, mas a madeira sempre esteve em primeiro lugar.

Aos poucos foram ampliando a oficina e, ao lado da mesma, montaram uma serraria com um utensílio denominado de “serra pica-pau”. Anos mais tarde construíram a serraria próxima ao trevo do Borghetto (local onde encontra-se o edifício a ser preservado). Com o crescimento da empresa, novos funcionários foram sendo contratados e, para abrigá-los, os irmãos Baldo resolveram construir uma  pensão, onde funcionava também uma loja de materiais de construção, um depósito de móveis e uma garagem. 

Em 7 de setembro de 1979, um incêndio destruiu totalmente o prédio e praticamente tudo o que estava dentro. Os habitantes da pensão ficaram apenas com a roupa do corpo. Apesar do acontecido, a família Baldo não desanimou e enfrentou as dificuldades com trabalho árduo.

Durante o tempo em que os três irmãos eram sócios, ocorreram diversas alterações no contrato social da empresa, com entrada e saída de seus filhos da sociedade. Em 2 de maio de 1990, Clorindo, Unírio e seus filhos se retiraram, permanecendo apenas Ereny, seus filhos e genro. 

Sete anos depois, a Madeborgh passou a ser propriedade apenas de Ereny e seu filho Nereu, que permanece até hoje. Mantendo o espírito de empreendedorismo, em 1998 iniciou-se a construção de  nova oficina no local onde continua instalada atualmente – Avenida Julio de Castilhos 961, Borghetto.

Em 2 de janeiro de 1999, Ereny, debilitado devido a problemas de saúde, deixa a sociedade, e seu outro filho, Rutinei Baldo, ingressa em seu lugar. No dia 27 de outubro de 2000, Ereny vem a falecer, deixando para Nereu e Rutinei o exemplo de pai e empresário.

Em 2007, devido a questões ambientais – estava construída em cima de um arroio – a serraria teve que ser transferida. Mudou-se para uma área de terras rurais localizada junto à oficina de móveis e esquadrias. Após a nova construção, os irmãos Nereu e Rutinei, com a ajuda das esposas Fátima e Diana, montaram também uma estufa para secagem de madeira. Os irmãos, com suas famílias, seguem à frente da madeborg até hoje e mantém funcionários nas linhas de produção. Os filhos de Nereu, Roberto e Eduardo, são a terceira geração da família Baldo a trabalhar na empresa.

E o edifício sobre o arroio permanece vivo, testemunhando o trabalho da família, colaboradores e a comunidade do Borghetto, de Anta Gorda e da Região.

Em 2 de fevereiro de 2023 a Madeireira Madeborg é doada à AAMoinhos, a fim de que a entidade busque, via financiamento de Lei de Incentivo à Cultura, verbas para a sua recuperação.

Antes mesmo de sua doação, a entidade vem se esforçando para manter o prédio protegido e estabilizado.
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